20 December 2007

reflexões sobre uma conversa

Ele tinha um ar meio velhadas e achei que seria uma seca ouvi-lo... felizmente enganei-me.
Temos fases em que o nosso umbigo nos engole e acabamos por nos focar muito em nós próprios. Nestas fases quase tudo o que nos dizem soa a filosofia barata ou então soa a qualquer coisa como a professora do Charlie Brown (muah muah blá blá blá...)

Eu estava ali com a impressão de que não ia gostar de o ouvir, achei que não ia sair dali nada de interessante. Ainda por cima ele comia sílabas... tipo em vez de "profissional" dizia "prussional" e em vez de "organização" dizia "orgação"... mas talvez fosse por ter tanta coisa para dizer e por estar a aproveitar o tempo de antena para falar de tudo a que se tinha proposto.

E ele disse muita coisa que me fez ver que o prémio que recebeu não foi dado de ânimo leve. Que de facto é um carola do nosso país e que ainda bem que o seu trabalho é reconhecido e que eu tive oportunidade de com ele me cruzar.
E então foi bom largar o meu umbigo por um bocadinho... (ao qual voltei mais tarde porque ando em manutenção rígida e por isso tenho que me "virar para dentro") e ouvi-lo a falar sobre coisas mais externas... mesmo não nos afastanto muito da essência do humano.

Falou de como as crianças de hoje são quase biónicas. Nascem praticamente bionizadas, ou seja, num ambiente multimédia que lhes dá capacidades inatas que devem ser canalizadas e aproveitadas para fazer coisas.
Que elas funcionam desde logo com algoritmos diferentes do resto das gerações anteriores.
E os jovens... há jovens que são quase como um google humano, absorvem tudo... há que saber detectá-los e aproveitar as suas capacidades.
E a 3ª idade está doente... primeiro porque a sociedade não está preparada para lhes dar o conforto que necessitam... e depois porque estão a necessitar de desintoxicação. Uma opção poderia ser tirar a todos os 30 comprimidos diários... aqueles que foram receitados ao longo dos últimos 10 anos por 15 médicos diferentes... e que ironicamente devem estar todos em conflito uns com os outros... e que felizmente com o auxílio dos Sistemas de Informação, da ANF (Associação Nacional de Farmácias) e outras entidades governamentais, está a ser feito um esforço para que os dados dos doentes fiquem registados de forma a que não seja prescrita nenhuma droga a um doente sem saber previamente toda a medicação que já lhe foi receitada...

Por fim... ele, uma pessoa com tanto sucesso na área de trabalho que desenvolve, disse-me que é quando temos muito sucesso que cometemos os piores erros da nossa vida. Que é quando estamos "em alta" que nos esquecemos que já estivemos e que o mais provável é podermos voltar a estar "em baixa", e que geralmente este 'esquecimento' leva-nos até à asneira. Que tudo o que sobe também desce...
Que os aviões quando levantam vôo, andam lá no alto... mas que o piloto tem que estar a toda a hora ciente de que o equipamento completo, a aeronave e a tripulação devem estar sempre preparados para uma aterragem segura.
E que estarmos conscientes das nossa propensão para falhar e dos limites das nossas capacidades não é necessariamente DESISTIR.

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