27 June 2010

Equilibrium - q.b.

Andamos há mais de 2000 anos a procurar. Ou pelo menos a maioria de "nós".
Mais de 2000 anos a tentar perceber como fazer para nos realizarmos mais na vida; a perceber porque aqui estamos e porque queremos sentir-nos nessa realização, individualmente e em "equipa" (chamemos-lhe assim para ser mais lato).

Mais de 2000 anos a errar porque somos naturalmente "não-ensinados" e não sabemos, portanto, como agir perfeitamente em todas as situações. E o que é, sequer, agir de forma perfeita?

Mais de 2000 anos em busca de conhecimento, sempre por base nada mais do que a tentativa-erro.

Ainda assim repetimos erros. Over and Over...

Um amigo dizia ontem qualquer coisa como: "Sim, cometemos erros e faz parte. Hiroshima e Nagasaki - que, claramente foram errantes e momentos pouco felizes da História - foram, no entanto, importantes, pois sem estes (e outros), se calhar não teriamos hoje energia nuclear... e ter-se-iam-se perdido, muito provavelmente, os génios que ajudaram a descobrir e criar algo que depois acabou por ser mal utilizado. A culpa não pode ser-lhes atribuída... provavelmente quando fizeram descobertas e criaram, não terá sido com essa intenção/finalidade."

Equilibrio.

Tudo o que devemos procurar é Equilibrio. Nem mais, nem menos. A porção exacta e certa... para nós, para quem gostamos. Tolerando e encaixando.

Tomando como exemplo de análise, o nuclear, se o calor emitido for convertido em energia eléctrica, temos um resultado equilibrado e controlado por centrais e reactores, mas se, por outro lado, perdermos o equilibrio, a mesma energia pode ser usada descontroladamente e gerar resultados devastadores, idênticos aos da bomba atómica.

Será necessário equilibrar o mal com o bem? Sacrificar o bem pelo mal?

Marie Curie, como estudámos em História, descobriu a radiação ionizante, mas não sem sofrer de envenenamento radioactivo... sofreu e morreu de leucemia. Terá valido a pena? O que tirámos do que ela descobriu vale o seu sofrimento enquanto o descobriu? As inflamações nas suas mãos causadas por manipulação de materiais radioactivos?

E estas mentes queriam descobrir sempre mais e era nisso que baseavam a sua realização e existência.

Onde está o equilibrio?

- Se temos dinheiro a menos mal sobrevivemos... se temos dinheiro a mais ficamos avaros, cheios de soberba e corrompidos.
- Amor a menos não chega ... amor em demasia sufoca.
- Ser vagaroso, não é perfeccionismo, é preguiça... ser rápido demais é ser apressado e imperfeito.
- Se fala muito é tagarela e carente, quer toda a atenção para si... se fala pouco, é impenetrável, autómato, insensível ou anti-social.
- Se é muito ambicioso, é prepotente, maquiavélico e conflituoso... se não tem ambição, é parasita, acomodado e um fardo.
- Se diz o que pensa sem filtros, é insensível, anárquico e associal... se omite tudo o que pensa é totó, infeliz, sozinho e de outra forma, também associal.
- Paixão é exagero... Fuga é desprezo, abandono.
- Caminhadas curtinhas não satisfazem, não completam... caminhadas longas demais cansam, fatigam, molestam.
- Se é nervoso, explode, é histérico, espalha o pânico e o caos, exagera... se é calmo demais, é muito sério ou apático, implode sem manifestação externa, ninguém o lê, é desprovido de emoção.
- Se opina, tem a mania, é invejoso ou controlador... se "come e cala" é nabo e não tem personalidade.

Lutamos por poder. Em conjunto, não sabemos ser humildes, cada vez menos fazemos "fretes", entramos constantemente em conflito de prioridades.
Os ritmos aceleram. O tempo é sempre pouco, mas antagonicamente, é também reparador.
Um filho é pouco, três já serão demais?
A rotina cansa... o original é excêntrico e fora do comum!
O temporário é inseguro. O "todo o sempre" assusta.
A ausência de exercício físico é preguiça e sedentarismo... o excesso é imoderação, doença, vício, anemia, hipoxia, mania e outras coisas acabadas em "ia".

Os extremos nunca foram pontos de equilibrio. É por isso que são extremos...! :op [Jacques de la Palisse?? :o) ]
Os extremos desequilibram e aumentam a imperfeição.
Apoiados em extremos, a sós ou em conjunto, dificilmente conseguiremos manter ligações duradouras e saudáveis, quer com o nosso íntimo quer com quem amamos e nos rodeia.

Equilibrio.

Aquele ponto "ali". (sem cola!)
Será ele assim tão difícil de encontrar e de alcançar?

23 June 2010

video everyone should see

Para ver, pelo menos uma vez por ano.
Faz favor de marcar na agenda. Ok?

adoro gadgets

Após a infelicidade de me terem "desviado" o ipod vermelho... (nana's nano) eis que me presentearam com um cor de rosa... e apesar de gostar muito do meu vermelho porque foi uma oferta especial, este cor-de-rosa tem cá uma pinta!

Dá para fazer videos, é sensível à posição "landscape/portrait" , se tiramos os phones dá música na mesma, epah é lindo!


Não esqueço o outro por razões sentimentais, mas este é demais! :oD

Adoro gadgets!

Obrigada pela oferta/reposição!

22 June 2010

Ah! É verdade!

Estando-me então nas tintas para as línguas viperinas e malvadas, encorajada pela dançarina herself e por mais duas pessoas de gabarito, acabei por vestir a fatiota e servir de ajudante de Dançarina do Ventre. P'ra El Rey ver! :oD

Para a posteridade em tons de verde e roxo:

Não sei quem era o senhor desta segunda foto mas parou na altura certa! :op

:o) Obrigada...

XXX says:
é simples!!
só tens de reescrever tudo o que eu escrever e não contestar!!
combinado!!!
Eu Nana Afonso
n a n a ® says:
combinado
tipo jogo da sombra
não contestar...
grrr
Eu Nana Afonso
XXX says:
Prometo ao meu amigo XXX
n a n a ® says:
prometo pela minha honra
hehe
prometo ao meu amigo XXX
XXX says:
e com a gracinha de deus...
que nunca....
mas Nunca mais....
n a n a ® says:
e com a graça de Deus, que nunca, mas nunca mais
...
XXX says:
me vou desvalorizar...
n a n a ® says:
me vou desvalorizar
XXX says:
nem tão pouco...
n a n a ® says:
nem tão pouco
XXX says:
entender que...
n a n a ® says:
entender que...
XXX says:
o que faço com dedicação...
é uma perda de tempo...
porque tudo na vida, não acontece por acaso e me faz crescer
n a n a ® says:
o que faço com dedicação, é uma perda de tempo
n a n a ® says:
porque tudo na vida, não acontece por acaso e me faz crescer
XXX says:
e tenho os meus amigos que me dão a mão e alento quando estou em baixo e partilham os bons momentos da vida
Sou linda e maravilhosa!!
então???
Vou almoçar e volto já!!
quando voltar quero ver tudo escrito!!!
n a n a ® says:
e tenho os meus amigos que me dão a mão e alento quando estou em baixo e partilham os bons momentos da vida
Sou linda e maravilhosa
vou almoçar e volto já!!
XXX says:
és sim!!!!
n a n a ® says:
hehehe
XXX says:
LOL
tonta!!


:o)

18 June 2010

E assim foi Saramago...

Havendo lugar para tudo... depois das piadas, os pêsames.



E asim foi o nosso Nobel da Literatura. Fica na história, logo na memória.
R.I.P.

(Saramago na imprensa nacional)

As piadas SECAS estão de volta! :oD

Aqui vão duas...

Diz o trigo à aveia:
- Epá o meu miúdo não parava quieto!
Então e o que é que fizeste?
- Centeio


Como é que o Han Solo, do Star Wars, manda calar uma prostituta?
- "Chewbacca" !!!

Ok... a última é muito sexista... e o Harrison Ford não tem ar de o ser - se bem que as aparências cada vez mais nos enganam... (Já agora, Parabéns ao Harrison que casou ontem com a namorada de há muito tempo, Calista - toda a gente se casa... pfff!) mas a piada frita é parva mas é inocente, vá.

We all float... so, who cares, right? Float on...

Hooverphonic - We all Float
normal e + psicadélica :o)... gosto de ambas.
We all float. Clouds of gold.





The wind is telling stories about us
Writing words in sand and powdered dust
Deserted squares and lonesome trees
The wind revealing stories about us

Fall is telling stories about us
Writing words with leaves and powdered dust
Multicoloured lanes of trees
Mesmerising stories about us

We all float
Clouds of gold
Mountains make the sun arise
Your rainbow coloured eyes can change the tide

We all float
Clouds of gold
Mountains make the sun arise
Your rainbow coloured eyes can change the tide

The river telling stories about us
Writing words in water full of lust
Yellow purple green or blue
Drip by drip revealing things on you

We all float
Clouds of gold
Mountains make the sun arise
Your rainbow coloured eyes can change the tide

We all float
Clouds of gold
Mountains make the sun arise
Your rainbow coloured eyes can change the tide

Mountains make the sun arise
Your rainbow coloured eyes can change the tide

Para uma "Float On" de Modest Mouse, num registo muito diferente... mas com uma boa (excelente) mensagem...
Link Aqui

15 June 2010

Mas vá lá, toca a vir ver El Rey


Eu para não variar...

... vou fazer figuras. Das que prometi que "nunca" mais fazia! É por estas e por outras que isso de dizer "nunca" e "sempre" é sempre (passo a redundância) duvidoso e até perigoso...!
Bom, não tenho dúvidas de que, para mim, será uma noite e uma tarde plenas de sinestesias.

Irei, mas só porque umas quantas pessoas insistiram meeeeeesmo muito.

E nestes dias de maioral "estupidificação" a que me tenho submetido, encontro divertimento em não ser eu, em vestir as fatiotas (já escolhidas) e rir ao espelho, como alguém com as capacidades mais circunloquiais que conheço (e que ao fim de tanto tempo ainda não percebi se é realmente parvo ou se apenas se faz... e, consequentemente, não deixa de me fazer a mim) me "disse" um dia para fazer.
Nope, não vou pintar a cara à balda e rir ao espelho, não preciso de me embutir assim na minha vã existência.
Com a fatiota da Dança do Ventre já me dá para rir da minha falta de jeito!

Pena ser AQUELE espelho. O que traz recordações, espelho meu... espelho teu! Devia comprar um espelho novo... bom, deixando-me de 'prolixezices'. Não é hoje que vou comprar espelhos pois que vou com a prima comprar casacos. :o)


Ai, ai, ai... o que se faz/repete por amizade... ainda por cima com o que poderá voltar a acarretar... mas enfim. não devo nada a ninguém! (hum... talvez o condomínio deste mês... tenho que tratar disso...) Anyway, haja o que houver. Está decidido... :o) Who cares about what they say. Inveja é coisa feia!

Só quero ver como vou aguentar aquele véu medalhento na cabeça... mas vai ter que dar, ai vai, vai... como "tapa misérias"! :oD

Vá, Fá'xavor de vir à Feira Medieval. :o)

Estais todos convidados! :o)


07 June 2010

Call me a sissy but...

Sempre que vejo isto emociono-me.
I'm a cry baby.
Já tinha feito um post com isto... mas vale mesmo a pena repetir.
Pantente credits... (mesmo que façam testes em animais... o anúncio (Tailandês) está comovente, criativo... e de certa forma, pedagógico... mas é só a minha opinião. Vale o que vale.)

"Why...
...do you have to be like others?
Music is a visible thing.
Close your eyes. you will see."

Buaaaahhhhh! :'o))o':

04 June 2010

Sagração da Primavera

Foi na passada 4ª feira. (portanto já não é um post spoiler para quem não viu e não conhece!)
Dia 2 de Junho, véspera de feriado. Fomos ao CCB eu e a mãe ver a "Sagração da Primavera".
A mãe não costuma ver destes bailados "esquisitos" mas depois de tudo... "dos silêncios que falam", eu já não imaginava outra companhia senão a dela para este programa. E ela ia contente, feliz até.
Um quality program com a filhota! eheh
Lá fomos as duas a cantar por cima da Mariza pelo caminho (que belos trinados tem aquela giraf...senhora!!).

Chegamos 15 minutos antes, damos a moeda ao "carocho". Conversa para aqui, conversa para ali. Havia gente de todos os "quadrantes", como sempre. Desde hippies a gente absolutamente low profile, como senhoras muito selectas e produzidas.

E agora aqui um á parte: Ao relembrar a última vez que lá tinha estado para um concerto de Chopin, estranhei muito a minha companhia ter-me dito até um pouco despropositada e cavalheirescamente: "Vens vestida assim?"
Como se houvesse um dress code para os espectáculos do CCB! O dress code é como nos sentirmos confortáveis! É como nos apetece ir... e há sempre alguém que nos surpreende pela falta de gosto... mas gostos são gostos.
Devia ter percebido logo a minha companhia, já numa formatação diferente, teria "gostado mais" se eu fosse com um outfit mais "clássico"...
Mas é mesmo assim vê-se de tudo por lá! E Eu sou Eu, não há cá confusões, não foram os meus gostos que mudaram para o mais clássico...

Adiante...
Entrámos, os lugares eram espectaculares! :oD

Depois do habitual reboliço das gentes a arrumarem-se nas cadeiras e cadeirões, plateias e balcões... eis que a luz se apaga e entra a OrchesTrutopica. Palmas.

Adorei. Tocaram uma peça inédita de Luis Tinoco, que " com entusiasmo e receio aceito[u] o convite da OrchesTrutopica para escrever uma peça para ser incluída no programa com a "Sagração da Primavera", e que de algum modo fizesse a aproximação à obra de Stravinsky"

E eu adorei esta estreia absoluta e encomenda da OrchesTrutopica: Before Spring - A Tribute to the Rite (2010)
Gostei particularment do facto de, a meio da peça, terem sido divididos os metais e os instrumentos de sopro, do resto da orquestra, uns para a escadaria do lado direito do Grande Auditório e outros para a escadaria do lado esquerdo, respectivamente, e bem perto de mim, ficaram os Piccolo, Oboé e Clarinete, iluminados com grandes bolas de luz e foi um festival de acústica, diferente da atitude tradicional e com uma curiosa diversidade estética!

E chegava o momento de ter uma outra luz, desta vez a incidir sobre um montinho de areia e um homem - O Sábio - que parecia fazer um aquecimento. E depois dança... movendo-se de uma forma quase primitiva, bastante atlética, fazendo posições que faziam esticar as roupas e ao mesmo tempo deixavam os olhos em suspenso, àvidos por mais.
Em surdiana disse à minha mãe: "estou mortinha que dê um pontapé na areia!"
Mas não, em vez disso, entram, um a um, homens, com grandes sacos de areia que despejam em montes iguais ao primeiro e luzes incidem sobre cada montinho. Todos dançam, livremente, às vezes sincopados, outras vezes não como se de um ritual meio caótico se tratasse. Todos elegantes, a maioria com roupagens iguais, simples, leves que deixavam transparecer ângulos inesperados do corpo.

Para mim o momento alto da peça nem é a dança da "Jovem Eleita" que dança até sucumbir, até à morte, sagrando o Deus da Primavera - papel de destaque que fora desempenhado em 1980 pelo Ballet Gulbenkian, pela própria Olga Roriz -coreógrafa desta peça que vi e saboreei com todos os sentidos - no Ballet Gulbenkian sob coreografia de Joseph Roudillo. O ponto alto para mim é sim a triunfante entrada corrida das mulheres. Todas de vestidos coloridos, como flores.
Inicia-se o verdadeiro rito ancestral. Sensual mas de uma estética pouco harmoniosa pois os bailarinos parecem sacudir-se, por vezes até violentamente. E caem (bolas, quantas vezes pensei: "aquilo é que é saber cair!") e, finalmente, o que eu esperava! O espalhar louco da areia! hehehe

Fiquei toda contente! Urgia-me ter a areia toda espalhada pelo palco! Estava ávida de ver os bailarinos todos "areados". :oD (sem que caísse areia para a orquestra! calculo que não fosse muito bom para os instrumentos)

O pó suegia e espalhava-se no ar por cima dos bailarinos perante as sacudidelas impetuosas dos corpos magros e no caso delas, do cabelo. Cheguei a pensar como é que aquelas mulheres não partiam o pescoço com tanta sacudidela agressiva das cabeças e do cabelo naquela areia, empoeirando o ar e fazendo ruídos de esforço, quase gritos, sob uma música forte e tumultuosa cheia de picos de emoção e de altos e baixos, na peça de Stravinsky interpretada pela excelência da Orquestra Metropolitana de Lisboa.
A certa altura, do tecto começou a cair algo, não sei se mais areia se água. Primeiro pensei que seria mais areia, mas depois pareciam-me sprays de água.
E os pés descalços rolavam e enrolavam a areia, figurinos em esforço, danças e contra-danças que quase nos cansavam só de ver.

Bonito o espectáculo de cores proporcionado pelos vestidos das mulheres, de simples corte mas colorido, excepto o da "Eleita" que era preto.
Depois do namoro dos corpois, casais mistos e "menos mistos", um beijo solto, dança compassada e corridas frenéticas, chegara o momento da "Eleita" iniciar a dança da morte que ditaria o final do espectáculo.

Saí de lá exausta de tanto movimento e tanto sacudir de cabelos, cabeças, corpos e areia.
Mas gostei muito da coreografia da Olga Roriz. A mãe, tal como eu já imaginara, gostou mas achou aquilo tudo bastante esquisito.
Eu já tinha visto partes da mesma peça coreografada pela Pina Bausch (que já faleceu mas que conheci pessoalmente! Também no CCB, julgo que em 2003 quando fiz baby sitting para o bebé de um dos casais de bailarinos da sua companhia. Rainer Behr & Julie Shanahan do Tanztheater Wuppertal) Estes senhores das fotos aqui ao lado:

Estranho saber que esta peça de Stravinsky e coreografia de Nijinsky, na sua estreia em 1913 em Paris terá sido muito criticada e mal recebida, considerada mesmo o maior escândalo da história da música. Protestos do público, tanto à parte musical como à coreografia de Nijinsky - coreógrafo sobre quem também estudei nas aulas de Literatura & Artes, uma das minhas cadeiras preferidas na faculdade! - mas nas apresentações seguintes ligeiramente alteradas em forma de concerto, já teve uma aceitação pacífica e depois ficou muito célebre precisamente por toda a polémica em torno da peça.

Eu gostei muito!
Fez-me bem à alma que bem andava a precisar.

03 June 2010

What if...

A penguin is not a penguin?

Às vezes damos tudo ao pinguim...
...esforçamo-nos pelo pinguim, aceitamos que o pinguim erra, ficamos calados à espera que o pinguim nos esclareça sobre os seus erros, aceitamos que o pinguim AINDA não tem o poder da palavra e perdoamos e amamos o pinguim, passamos anos e anos com o pinguim, damos a mão ao pinguim, iríamos até ao fim do mundo com o pinguim, protegemos o pinguim, o pinguim protege-nos, fazemos abrigos no meio do mato com o pinguim, fugimos aos cães com o pinguim e apanhamos o susto da nossa vida, ao lusco-fusco com o pinguim, fugimos de comboio com o pinguim, bebemos vinho do porto a ouvir Nick Cave "The Lyre of Orpheus" com o pinguim, ficamos zonzos com o pinguim e... ai pinguim... :#) Ouvimos as badaladas com o pinguim...
Oferecemos ténis de Puma ao pinguim (o pinguim não tem paciência para ir às compras ou prefere que as coisas lhe sejam oferecidas), chateamos o pinguim para acabar o curso superior, chateamos o pinguim para tirar a carta de condução, mas chateamos o pinguim apenas porque gostamos muito dele e sabemos que os ténis de Puma não servem para grandes viagens para um pinguim e umas rodas de automóvel podem ser úteis! Apoiamo-nos no pinguim e o pinguim apoia-se em nós, aguentamos desafios e ouvimos desaforos pelo pinguim, enfrentamos tudo pelo pinguim, damos bilhetes para concertos ao pinguim, amamos o pinguim (ah, já tinha dito esta?), criamos hábitos com o pinguim e pelo pinguim, ficamos ao lado da sua cama quando o pinguim fica doente a desafiar dragões ou apenas febril, ensinamos tudo o que gostamos ao pinguim, partilhamos a nossa música com o pinguim, partilhamos tudo com o pinguim, amamos o pinguim (ah! já tinha dito esta não já?), choramos pelo pinguim, sofremos com silêncio do pinguim, tentamos chegar ao coração do pinguim (e até pensamos que chegamos...), vamos a casa dos pais do pinguim, o pinguim até vem até casa nos nossos pais - mas não tanto como nós à dos dele, subimos montanhas com o pinguim, "escolhendo o caminho de pedra em pedra até chegar lá cima", damos presentes ao pinguim, damos presentes à família toda do pinguim, recebemos presentes do pinguim, somos felizes com o pinguim, mostramos os nossos sítios sagrados ao pinguim, conhecemos outros sítios sagrados com o pinguim, vemos com o pinguim, outros pinguins a fazerm o que os pinguins fazem e devem fazer para ficarem juntos para a vida, mostramos ao pinguim onde gostávamos de ir na infância, às vezes zangamo-nos com o pinguim (mas é mais ou menos natural, acontece, mesmo com pinguins), passeamos com o pinguim por todo o país e até viajamos com o pinguim pela Europa fora, sonhamos fazer ovinhos de pinguim e ter pinguinzinhos do pinguim, ajudamos o pinguim a decidir, ficamos à espera do pinguim, esperamos que, devagarinho, e no seu andar dançante e meio apaixonante meio vagaroso, o pinguim dê os passos que deve dar e esperamos que o pinguim se prepare se não estiver sintonizado com os nossos tempos (convenhamos, um pinguim não é o animal mais ágil...), desesperamos com a dor do pinguim, choramos quando não entendemos o pinguim - por mais que tentemos - não percebemos o que se passa com o pinguim porque o pinguim não diz e já passaram tantos anos, mas continuamos a perdoar o pinguim, e o pinguim perdoa-nos a nós, o pinguim expressa-se mal mas até ouvimos queixas do pinguim, mas não vemos as soluções do pinguim, o verdadeiro compromisso do pinguim, sabemos que o pinguim tem medo, ficamos desorientados quando o pinguim não se usa dos poderes da comunicação entre pinguins para expressar os seus medos e todos os seus outros sentimentos, para dizer o que sente e o que quer e quase nos matamos pelo pinguim... mostramos que amamos mesmo o pinguim, oferecemos-lhe pinguins, oferecemos tudo ao pinguim...

E quando vamos ver... o pinguim não quer mais ser pinguim...?
O pinguim faz-nos maldades e faz-nos crer não ser o pinguim... o pinguim abandona-nos... mesmo dizendo que não, o pinguim abandona-nos e deixa-nos sós.
Pensamos... porque é que o pinguim diz que não nos abandonou se está tão longe, na neve, lá ao fundo.
E não há forma de lhe cantarmos que volte. Faz ouvidos moucos o pinguim.
Será que o pinguim não é mesmo o pinguim? O pinguim foge. Não quer ser pinguim. Diz, a custo, que afinal não sabe o que quer ser. Ser pinguim já não deve ter assim tanta piada.
Quer ser outra ave rara qualquer...
O pinguim... o pinguim...


“Penguins mate for life. That doesn't surprise me much because they all look alike. It's not like they're going to meet a really new, great looking penguin someday.”

"Xô... sai fora. Se enxerga aí, cara. Não sou mais seu pinguim, não, pô.
Eu qui sei o qui quero e SÊ quero e quando quero! Eu Hein!"

E pronto... muito ao jeito de um "Dirty Penguin Callahan" podia dizer-me então (se ao menos falasse ou conseguisse falar), o pinguim, na sua versão da Antárctica:

"- Eat My Spray Powdered Snow, punk."

...

01 June 2010

A dor invisível

Quem preferia levar uma carga de porrada ao invés de sentir dor emocional, levante o braço.

Eu preferia. Prefiro.

Uma fractura exposta, um braço partido, dores de dentes, uma úlcera, ficar sem um rim.
Não há curas, pensos rápidos nem medicamentos para as dores emocionais. Dizem que só o tempo.
E o que se faz até lá? E passa para sempre? Sei bem que não.

Dói mais um coração partido que uma perna partida.

Sim, sim, toda a gente sabe que são dores absolutamente diferentes, a física e a emocional, mas garanto que preferia que me batessem até esquecer que existo do que sentir o vazio provocado por uma perda.

Há profissionais para as "dores da alma" mas será suficientemente eficaz recorrer a estes?
O anti-depressivo não resulta com a rapidez de uma injecção, de um analgésico ou mesmo de uma cirurgia (incluindo a fase de recobro e recuperação!).

Dores emocionais podem durar uma vida. Um luto interminável. São feridas não expostas.

Não há 112 para o desgosto, nem um hematoma visível das dores emocionais, a cicatriz da ansiedade, o gesso para imobilizar o sofrimento, o sopro maternal para aliviar a queimadura aguda da mágoa. Tudo se passa em estados invisiveis.

Parece absurdo para todos que alguém esteja miserável quando finalmente vem o sol, quando há possibilidade de ir à praia, ir a festas, jantares ou outros eventos normalmente agradáveis.
Para quem está com tal pesar e comoção, não interessa o clima, não interessa a praia, os eventos de pouco servem. É até possível ver uma comédia com vontade de chorar, e chegar mesmo a fazê-lo...!

Os sorrisos ao longo do dia são maioritariamente forjados, estar contente não passa de um ensaio para conseguir realmente estar, porque todos dizem que devemos rir e que "alegria gera alegria", mas este lindo cliché, lamento informar, infelizmente, nem sempre funciona.

E parece também imensamente descabido dizer que alguém que leve uma grande paulada na cabeça sofrerá menos do que alguém que sofre por dentro. Pura mentira.

A possível perda de algo ou de alguém que muito se quer, sente-se como uma mutilação. É físico, é visceral.
Que pena não podermos fazer downloads de dor uns para os outros, para que por segundos possamos introduzir a pendrive na entrada USB e possam sentir por nós, com a possibilidade de partilhar os gigas de dor, ou simplesmente "remover com segurança o hardware".
Talvez assim não houvesse tendência de menosprezar e pensar que quem sofre é tolo, fraco ou simplesmente não é forte o suficiente para querer 'sair da fossa'. Querer, queremos sempre, mas o afamado, o mal-fadado, aquele infame que nos faz esperar, o que nos faz desesperar... o indelicado, o despropositado, o desagradável e temível "Tempo", demora mais a passar do que, imaginemos, o Manoel de Oliveira demoraria a pisar a meta da meia maratona de Oeiras.

Minutos são anos, segundos são meses.

Quando era miúda o meu irmão adorava torcer-me o braço atrás das costas nas brincadeiras parvas dele. Pareciam dores terríveis mas preferia pedir ao mano para me torcer os braços durante horas do que sentir desalento no espírito.

Nota: Quadro original: 'The Scream' pelo Expressionista Norueguês Edvard Munch... (não sei o que fizeram ao senhor mas parece pouco feliz...) os outros são duas parvoíces... o Homer Simpson e o Telly da Rua Sésamo na mesma posição do quadro.