03 June 2010

What if...

A penguin is not a penguin?

Às vezes damos tudo ao pinguim...
...esforçamo-nos pelo pinguim, aceitamos que o pinguim erra, ficamos calados à espera que o pinguim nos esclareça sobre os seus erros, aceitamos que o pinguim AINDA não tem o poder da palavra e perdoamos e amamos o pinguim, passamos anos e anos com o pinguim, damos a mão ao pinguim, iríamos até ao fim do mundo com o pinguim, protegemos o pinguim, o pinguim protege-nos, fazemos abrigos no meio do mato com o pinguim, fugimos aos cães com o pinguim e apanhamos o susto da nossa vida, ao lusco-fusco com o pinguim, fugimos de comboio com o pinguim, bebemos vinho do porto a ouvir Nick Cave "The Lyre of Orpheus" com o pinguim, ficamos zonzos com o pinguim e... ai pinguim... :#) Ouvimos as badaladas com o pinguim...
Oferecemos ténis de Puma ao pinguim (o pinguim não tem paciência para ir às compras ou prefere que as coisas lhe sejam oferecidas), chateamos o pinguim para acabar o curso superior, chateamos o pinguim para tirar a carta de condução, mas chateamos o pinguim apenas porque gostamos muito dele e sabemos que os ténis de Puma não servem para grandes viagens para um pinguim e umas rodas de automóvel podem ser úteis! Apoiamo-nos no pinguim e o pinguim apoia-se em nós, aguentamos desafios e ouvimos desaforos pelo pinguim, enfrentamos tudo pelo pinguim, damos bilhetes para concertos ao pinguim, amamos o pinguim (ah, já tinha dito esta?), criamos hábitos com o pinguim e pelo pinguim, ficamos ao lado da sua cama quando o pinguim fica doente a desafiar dragões ou apenas febril, ensinamos tudo o que gostamos ao pinguim, partilhamos a nossa música com o pinguim, partilhamos tudo com o pinguim, amamos o pinguim (ah! já tinha dito esta não já?), choramos pelo pinguim, sofremos com silêncio do pinguim, tentamos chegar ao coração do pinguim (e até pensamos que chegamos...), vamos a casa dos pais do pinguim, o pinguim até vem até casa nos nossos pais - mas não tanto como nós à dos dele, subimos montanhas com o pinguim, "escolhendo o caminho de pedra em pedra até chegar lá cima", damos presentes ao pinguim, damos presentes à família toda do pinguim, recebemos presentes do pinguim, somos felizes com o pinguim, mostramos os nossos sítios sagrados ao pinguim, conhecemos outros sítios sagrados com o pinguim, vemos com o pinguim, outros pinguins a fazerm o que os pinguins fazem e devem fazer para ficarem juntos para a vida, mostramos ao pinguim onde gostávamos de ir na infância, às vezes zangamo-nos com o pinguim (mas é mais ou menos natural, acontece, mesmo com pinguins), passeamos com o pinguim por todo o país e até viajamos com o pinguim pela Europa fora, sonhamos fazer ovinhos de pinguim e ter pinguinzinhos do pinguim, ajudamos o pinguim a decidir, ficamos à espera do pinguim, esperamos que, devagarinho, e no seu andar dançante e meio apaixonante meio vagaroso, o pinguim dê os passos que deve dar e esperamos que o pinguim se prepare se não estiver sintonizado com os nossos tempos (convenhamos, um pinguim não é o animal mais ágil...), desesperamos com a dor do pinguim, choramos quando não entendemos o pinguim - por mais que tentemos - não percebemos o que se passa com o pinguim porque o pinguim não diz e já passaram tantos anos, mas continuamos a perdoar o pinguim, e o pinguim perdoa-nos a nós, o pinguim expressa-se mal mas até ouvimos queixas do pinguim, mas não vemos as soluções do pinguim, o verdadeiro compromisso do pinguim, sabemos que o pinguim tem medo, ficamos desorientados quando o pinguim não se usa dos poderes da comunicação entre pinguins para expressar os seus medos e todos os seus outros sentimentos, para dizer o que sente e o que quer e quase nos matamos pelo pinguim... mostramos que amamos mesmo o pinguim, oferecemos-lhe pinguins, oferecemos tudo ao pinguim...

E quando vamos ver... o pinguim não quer mais ser pinguim...?
O pinguim faz-nos maldades e faz-nos crer não ser o pinguim... o pinguim abandona-nos... mesmo dizendo que não, o pinguim abandona-nos e deixa-nos sós.
Pensamos... porque é que o pinguim diz que não nos abandonou se está tão longe, na neve, lá ao fundo.
E não há forma de lhe cantarmos que volte. Faz ouvidos moucos o pinguim.
Será que o pinguim não é mesmo o pinguim? O pinguim foge. Não quer ser pinguim. Diz, a custo, que afinal não sabe o que quer ser. Ser pinguim já não deve ter assim tanta piada.
Quer ser outra ave rara qualquer...
O pinguim... o pinguim...


“Penguins mate for life. That doesn't surprise me much because they all look alike. It's not like they're going to meet a really new, great looking penguin someday.”

"Xô... sai fora. Se enxerga aí, cara. Não sou mais seu pinguim, não, pô.
Eu qui sei o qui quero e SÊ quero e quando quero! Eu Hein!"

E pronto... muito ao jeito de um "Dirty Penguin Callahan" podia dizer-me então (se ao menos falasse ou conseguisse falar), o pinguim, na sua versão da Antárctica:

"- Eat My Spray Powdered Snow, punk."

...

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