20 October 2007

relembrando & filosofando

Adoro quando ando a pensar numa coisa e de repente, PLIM!, vem-me à cabeça. Às vezes adorava poder beijar a minha própria memória.

Lembrei-me exactamente da definição de uma sensação que me tem sido familiar.
Nos tempos de "estudanta", quando falava com os amiguinhos do curso de Filosofia lá da faculdade sobre o ente o ser e sei lá mais o quê, lembro-me de discutirmos um conceito: Aporia

E lembro-me de falar em aporia quando estudei os solilóquios de Shakespeare. Não indo tão longe, encontram-se vários estados de aporia em Álvaro de Campos - um dos heterónimos do nosso querido Fernando Pessoa.

A aporia é o blindspot a que se chega muitas vezes nas discussões.
Quando já estamos cansados, já não sabemos ao certo o que dizemos e parece que perdemos a noção do tempo ou o sentido do que está a ser discutido - provavelmente, estamos em aporia.

Na filosofia, aporia é um estado de puzzle filosófico ou um impasse aparentemente insolúvel que resulta normalmente de premissas igualmente plausíveis que, por sua vez, poderão ao mesmo tempo ser inconsistentes. Pode também resultar de estados de perplexidade ou de perda, perante tal puzzle ou impasse.
A aporia cria uma tensão lógico-retórica que impede que o sentido se possa fixar (man, isto explica tanta coisa!).

Os primeiros diálogos de Platão são muitas vezes chamados de aporéticos porque tipicamente acabam em aporia. Sócrates questiona o seu interluctor acerca da natureza ou sobre a definição de um conceito, por exemplo a virtude ou a coragem. Depois através do método eleático mostra ao seu interluctor o quão insatisfatória foi a sua resposta. Após um número de tentativas falhadas, o interluctor admite o seu estado de aporia no que diz respeito ao conceito em exame, reconhece que afinal, não sabe ao certo do que fala. Em Meno, de Platão, Sócrates descreve o efeito purgativo da redução de alguém a aporia: mostra-nos como alguém que pensava que sabia algo sobre uma determinada coisa acaba por admitir que de facto nada sabe, instigando-se uma sensação clara de inconclusão e o desejo de tentar investigar.

:oD

Bem sei que não descobri a pólvora... mas sabe bem identificar o que sentimos. Numa próxima ocasião vou pensar "hum... lá estou eu outra vez em aporia... ora bolas!"
Quem sabe a discussão não fica por ali!?
(atenção que pode ser "discussão" na boa acepção da palavra e não necessariamente vontade de andar à chapada com alguém que não está de acordo connosco :op)

1 comment:

Anonymous said...

que bom

nano