06 September 2008

'de copo virado para a lua'

O nome surgiu um dia numa pesquisa na nete, e novamente em conversa com alguém.
Alguém que hoje... não passa de um fantasma com quem vivo numa espécie de ausência consentida - a stupid fuck ghost... that's what IT is.
E parando aqui um bocadinho para reflectir sobre isto... eu não entendo nem sei o que lhe terei feito para tudo se resumir a 'isto'... a nada.
Mas aprendi recentemente com o B que,
por mais que eu me importe, há pessoas que simplesmente não se importam. E isso é algo que tenho que aceitar. De facto o tempo não volta atrás e, quem sabe se não ter conseguido o que queria, não terá sido um grande golpe de sorte...
Como diz também o B: "as pessoas respondem mais facilmente a provocações do que a gestos de amor e carinho".
Sou pura demais para certos jogos e abrir o coração sem maldade a quem não merece e só dá em troca engano, não me parece ser uma boa escolha. Infelizmente, hoje em dia, é muito mais fácil fazer o mal do que o bem... e bolas, eu bem sei como os fantasmas gostam de ter a vida facilitada.


Maaaaaaas!
Voltando ao que hoje aqui me traz. Foi uma promessa não cumprida, mais uma entre tantas, tantas que fico triste só em pensar. E por isso afasto o pensamento.

A palavra ficou, no entanto. E esta foi feliz que tivesse ficado, ao contrário de tantas outras.
Felizmente não dependo de promessas para continuar a respirar vida, a vivê-la, e a fazê-lo de uma forma amena, mas feliz. Quem é que precisa de stupid fuck ghosts?

Investiguei naquela noite azarenta e por esse mesmo azar não fui lá. Não fomos.
O tempo passou, mais uns meses...
Mas eu ir ali parar era quase que o DESTINO.
Como dizia Nuno Brederode Santos: "... há Lisboas incumpridas, cidades que em nós se fazem."
E eu ando a descobrir a minha cidade. E a fazê-la em mim e a amar cada segundo.

Ontem, por mero acaso e porque o TomTom Navigator do pai foi comigo passear, lá fomos ter. E que noite tão feliz!

"Um chafariz à porta de um bar é cá uma saudação que enternece o maior malvado".
Nem eu nem o meu acompanhante somos malvados, mas ambos permanecemos enternecidos.
Chegados à porta, vi a campaínha... ficámos na dúvida: "Entramos? Tocamos?"
A porta não estava fechada, mas também não estava aberta... tinha uma janela aberta (daquelas nas portas) por onde víamos o empregado levar bebidas de um lado para o outro e por onde ouvíamos a música e o tilintar dos copos e da gente.
Tocámos e entrámos.
Ele veio receber-nos e ofereceu-me o seu primeiro sorriso, mas não foi especialmente simpático.
Não havia lugares vagos nas mesas por isso sentámos ao balcão, como os bezanos hehe
Deu-nos uma pequena carta que consultámos muito rápido... eu queria um cocktail. Assim que o apanhei, perguntei pelos cocktails e ele deu-me, com um lindo sorriso, a carta dos cocktails. Foi aí que comecei a gostar dele. Reparei na barba muito bem aparada, no tom limpo e brilhante da pele e no tom limpo da voz.

- Temos estes aqui e ainda temos daikiris e marga... caipirinhas!
- São duas margaritas.
- Ah! Excelente!

Enquanto esperávamos aproveitámos para olhar à nossa volta. O sítio é bem mais giro do que eu imaginava. Cheirava a História. O ambiente... os reflexos de art déco...
A Alice estava com a cara enfiada no pequeno televisor numa ponta do balcão. De comando em riste... E nem sei para quê...! Tão próxima que estava do televisor para que queria ela o comando? Tive a sensação de conhecer aquela figura...

Perguntei ao outro empregado se tinha por ali alguma informação sobre a história do local...
Não era tão esperto - concluí muito rápido - apesar de me ter sorrido, não me conseguiu ajudar.
Não desisti. Dirigi-me ao outro, ao do sorriso bonito... que sempre a sorrir me respondeu.

-Desculpe... sabe dizer-me de que ano é o bar?

- Ora pois claro! Então se trabalho aqui! Tenho que saber! 1972...
- Já tinha perguntado ao seu colega... onde posso saber um pouco mais da história... ele aconselhou-me a falar com esta senhora, mas ela está tão entretida a ver televisão...

Sempre a sorrir, dirigiu-se ao cubículo onde faz as suas continhas e de onde antes fazia as suas projecções de filmes mudos (dos quais falámos mais tarde)... e trouxe-nos O Livro.

Se tinha dúvidas de que estava a viver magia, quando comecei a folhear o livro, percebi que as dúvidas se dissipavam. Devorámos um quarto do livro ao balcão enquanto ele e o colega vinham e iam.
Citei-lhe um pequeno trecho enquanto ele sorria para mim e perguntei-lhe quem era o Luís de que falava a frase... o tal gentleman ali mencionado só podia ser ele mesmo. Era isso que eu queria confirmar.
Era ele - simplesmente Luís. Estendi-lhe a mão por cima do balcão, para um forte bacalhau - Ana Afonso, é um prazer - e ficámos oficialmente apresentados. :o)
Curioso, perguntou-me como soubemos da existência do bar.
Foi quando tive vergonha de ainda não o ter conhecido antes... eu, uma alfacinha de gema, nascida na cosmopolita Capital de Portugal, não conhecia aquele bar tão emblemático...
Convidou-nos a passar para uma mesa que entretanto vagara, para ficarmos mais confortáveis. Escolhemos a mesa do "Tête-à-Tête" do piano.
E foi onde nos deliciámos com as bebidas e os salgadinhos e onde terminámos de devorar o livro até ao fim!
O Luís passava por lá sempre que podia, e respondia às minhas perguntas. Indicou-nos qual era a célebre "mesa dois", sempre discretamente para não apontar para as pessoas que lá se sentavam no momento.
Contou-nos que os "habitués" da "dois" - alguns notáveis da cena política, das artes e outros quadrantes da cultura portuguesa - sempre que ali vão, gostam de ver a mesa reservada... é mesmo como se fosse deles e se está ocupada... "ficam muuuuito ciúmentos! Perguntam logo: "Oh Luís... como é que deixaste alguém sentar naquela mesa?"
Deu-nos o boneco de bronze para as mãos, para lhe sentirmos o peso... Eu não podia com ele sem um bom esforço!
Bronze maciço!
Daqueles não me importava de ter um lá em casa... só pelo significado... (em vez da réplica do Le Baisier do Rodin que me mandou o primo francês...)

Quando fomos embora, o Luís disse com um ar tão simpático que me apeteceu cobrir-lhe as entradas da testa morena e reluzente com mil beijos: "Oh... já vão?"
- Vamos mas voltamos! Adorei!

Lá se enfiou no cubículo onde fez a conta. E enquanto pagávamos, mostrou-nos a Super 8, muito bem conservada e as cassetes de 8 mms das fitas dos filmes mudos... que "não tem tido tempo para passar porque requer tempo e paciência, porque às vezes a fita parte..."

Despedi-me dele com mais uma pergunta e de facto, geralmente, convém mesmo tocar à campaínha antes de entrar :o).
Trouxe comigo a história daquele espaço do qual tanto gostei, e muita vontade de voltar.
E voltarei. O Luís é um amor.
E de novo tenho que citar o B: por vezes somos agradavelmente surpreendidos por meros desconhecidos e desagradavelmente surpreendidos por alguém que se dizia nosso amigo.

Foi divertido, conhecer um pouco da história de um lugar que fez e faz parte da minha cidade, da história das vidas de gente que decide e decidiu coisas (algumas, supostamente) importantes, da nossa sociedade e até de algumas revoluções! Até o meu amigo Coronel Vasco Lourenço é mencionado no livro! (e eu, vaidosa, mostrei logo o número de telefone dele na minha lista de contactos... 25 de Abril sempre hehe:op)
Foi uma noite rica, como já tive muitas, mas não tantas como desejava. Mas tenho tempo. :o)

*'de copo virado para a lua' é citação do Raúl Solnado, um dos clientes, na sua descrição do bar.

E sim, eu sei que não mencionei o nome do tal sítio especial... se quiseres faz como eu, vai e procura... já dei muitas pistas... vai ter muito mais piada.

8 comments:

Anonymous said...

tem piada, uma vez cruzei-me com o próprio Raul Solnado nesse bar.

Mas.. como se fosse um fantasma, ele não reparou em mim..

É o que dá ter o copo mais virado para a Lua do que para a mesa.

(n)Ana said...

... riiight...

'..'

...?

sf...

Anonymous said...

Epá...fiquei curiosa!!!
Adorava descobir do que falas, mas parece que os teus conhecimentos fluem...eu não consigo lá chegar:(
Não me dizes?!?!?********************'s

Gonças said...

hum...trrrreasure hunt! how nice!

Gonças said...

hum...trrrreasure hunt! how nice!

(n)Ana said...

Menina R
Melhor que te dizer... era levar-te lá! Que me dizes?? Hum??
:o)

Gonças
Yah!! Mas eu dei bué pistas... é fácil.
Bem que podias pôr para lá uma cache urbana! Se é que não há uma já!! :oD
Beijinhos

Anonymous said...

Eu já descobri qual é o Bar e onde fica (foi por aqui que lá cheguei: "...há Lisboas incumpridas, cidades que em nós se fazem"), mas também alinho nessa de (me)levares lá...
Beijos
Mana C.

Anonymous said...

Bommm já sei o nome do bar eheheh No entanto não conheço, nem sequer sei onde fica (Lisboa não é cmg pah)por isso.....Adorava ir ctg!!!:)) Levas-me??É só combinares!
bjs gigantes até à lua