25 February 2008

o primeiro dia

Não que não tivesse mil coisas para aqui escrever.
Mas às vezes o silêncio ajuda a curar e as pausas, mesmo que pequenas, sabem bem.
Andei a pensar na exposição que o blog dá à minha vida e tudo o que isso tem atraído e tudo o que pode atrair.
Nunca foi algo que me incomodasse muito... já aprendi, e da pior forma, que pensar demais atrofia e limita.
Escrever tem sido bem mais uma necessidade do que um hobby.

Perguntaste-me recentemente "como me consigo abstraír do possível impacto que o que escrevo pode ter em quem eventualmente lê; na ideia com que os outros podem ficar de mim e dos meus devaneios por esta escrita..."

Já alguém me tinha dito que só escrevo porque sei que outros vão ler... Mas! O mais curioso é que apesar de saber que até há quem tenha este meu cantinho nos seus rss feeds, ainda acredito que não há muita gente com paciência para ler tudo e/ou levar essa mesma leitura totalmente a sério. Sim, gosto de saber quando vem cá alguém ler e se gosta ou não, aceito as críticas. Mas quando digo que escrevo em primeiro lugar para mim própria não estou a armar-me em espertalhona.
Escrevo em primeiro lugar para mim. E decerto já te aconteceu a ti ou a ti veres-me genuinamente surpreendida quando percebo que já conheces a história que eu ia contar, por teres "lido no blog".
Escrevo porque preciso e porque, não sabendo como nem porquê, escrever ajuda-me. Pelo menos é assim que é agora. Pode vir a deixar de ser!
Quando deixar de fazer sentido, páro...

Ajuda-me e nem sequer escrevo tudo... mas definir o que posso/devo ou não escrever, que já me sai praticamente em automático (e porque a intenção não é expor mais ninguém aqui, muito menos quem não o queira), este exercício de refazer tudo na minha cabeça, ou de criar as coisas que são ficção (baseada ou não no que vivo), e que incluí a triagem do que pode/deve ou não ser publicado, ajuda-me a compreender algumas coisas, ou simplesmente a aceitar o que vai para além do compreensível.

Vou escrevendo.
Enquanto fizer sentido,
enquanto me der prazer,
enquanto me fizer sorrir,
enquanto me ajudar a soltar coisas que ficam presas - lágrimas até, que sejam!
Enquanto me ajuda mais do que me desajuda - escrevo.

Cá estou... e quero continuar porque parar é morrer e eu sempre transbordei de vida.
Nada me vai tirar essa vida.
__________________________


A principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burburinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Primeiro Dia - Sérgio Godinho
(raio do homem tem mesmo cara de sapo... que feio...! :op)

4 comments:

Anonymous said...

Não gosto de te sentir assim tão triste...
Escrever, partilhar os sentimentos e pensamentos faz parte da tua natureza... é algo que eu nunca poderia, ou sequer saberia como fazer e, por isso, é (mais uma) coisa que admiro em ti.
És linda, maravilhosa (já to disse antes, mas nunca é demais repetir...), muito mais por dentro que por fora! e se alguém visita o teu blog à procura de "ego trips" ou de desculpas esfarrapadas de te acusar de te armares em espertalhona... é pá! não te conhece e não merece um segundo do teu tempo! Continua a escrever e a partilhar, enquanto tal fizer sentido para ti. Todos precisamos de um escape... Quando deixar de fazer sentido e/ou arranjares um escape novo, paras de escrever! Simples! Vai fazer falta a mim, como a muita gente, mas o mais importante és tu!
Pensa em ti primeiro... não te esqueças de que tu és a pessoa mais importante da tua vida.
Beijos
Mana C.

(n)Ana said...

Estou contente, estou contente!
Tenho tudo...
Tenho tudo o que preciso realmente.
E tenho-te a ti.

Um beijo maior do que a tua imaginação consegue alcançar! ;o)

Anonymous said...

Compreensível que escrevas primeiro para ti. Verdade que sabes que te lêem. Mas o que é viver se não for partilhar. Quem não quer mostrar escreve num diário de papel ou num blog incógnito. Enquanto quem escreve escrever primeiro para ele próprio acredito que são palavras genuínas. Até mesmos os devaneios são reais e importantes de se exteriorizar. Mas quando nós falamos de outros para além de nós, temos de ter consciência do alcance possível das nossas palavras. É como no dia-a-dia, ter noção da realidade das coisas. Nunca deixar de sermos nós próprios, sem nunca nos esquecermos que não somos nada sem os outros.

PS- Não caí de nenhuma nuvem. Sou alguém que escreve e gosta de ler.

Um beijinho.

Anonymous do gato.

(n)Ana said...

hehehe "Happiness is only real when shared" - foste ver o Into the Wild?? hehehe
Gosto das tuas visitas. Já te tinha dito?
Sabes que também tenho um diário... sou uma devoradora de moleskines. Houve um que me durou dois anos mas este ano já vou no segundo! Tenho o "diário" por causa de todas as coisas que não posso escrever aqui :op
As asneiras e os palavrões hehehe
Tou a gozar... sabes, aquelas coisas que sabes que não podem ser lidas por qualquer pessoa, que não podem ser públicas.
Por acaso há dias rasguei uma parte inteira do diário e deitei fora - isto é algo que tinha jurado nunca fazer. Mas sabes quando queres apagar coisas da tua vida que teimam em não se querer apagar?
Rasgar o diário ajudou... isto é a minha mente a pregar-me partidas... mas a verdade é que senti alívio e determinação.

Tenho que ler mais das tuas coisas :o) Deixas?
Beijinhos!