Não que não tivesse mil coisas para aqui escrever.
Mas às vezes o silêncio ajuda a curar e as pausas, mesmo que pequenas, sabem bem.
Andei a pensar na exposição que o blog dá à minha vida e tudo o que isso tem atraído e tudo o que pode atrair.
Nunca foi algo que me incomodasse muito... já aprendi, e da pior forma, que pensar demais atrofia e limita.
Escrever tem sido bem mais uma
necessidade do que um
hobby.
Perguntaste-me recentemente "como me consigo abstraír do possível impacto que o que escrevo pode ter em quem eventualmente lê; na ideia com que os outros podem ficar de mim e dos meus devaneios por esta escrita..."
Já alguém me tinha dito que só escrevo porque sei que outros vão ler... Mas! O mais curioso é que apesar de saber que até há quem tenha este meu cantinho nos seus rss feeds, ainda acredito que não há muita gente com paciência para ler tudo e/ou levar essa mesma leitura totalmente a sério. Sim, gosto de saber quando vem cá alguém ler e se gosta ou não, aceito as críticas. Mas quando digo que escrevo em primeiro lugar para mim própria não estou a armar-me em espertalhona.
Escrevo em primeiro lugar para mim. E decerto já te aconteceu a ti ou a ti veres-me genuinamente surpreendida quando percebo que já conheces a história que eu ia contar, por teres "lido no blog".
Escrevo porque preciso e porque, não sabendo como nem porquê, escrever ajuda-me. Pelo menos é assim que é agora. Pode vir a deixar de ser!
Quando deixar de fazer sentido, páro...
Ajuda-me e nem sequer escrevo tudo... mas definir o que posso/devo ou não escrever, que já me sai praticamente em automático (e porque a intenção não é expor mais ninguém aqui, muito menos quem não o queira), este exercício de refazer tudo na minha cabeça, ou de criar as coisas que são ficção (baseada ou não no que vivo), e que incluí a triagem do que pode/deve ou não ser publicado, ajuda-me a compreender algumas coisas, ou simplesmente a aceitar o que vai para além do compreensível.
Vou escrevendo.
Enquanto fizer sentido,
enquanto me der prazer,
enquanto me fizer sorrir,
enquanto me ajudar a soltar coisas que ficam presas - lágrimas até, que sejam!
Enquanto me ajuda mais do que me desajuda - escrevo.
Cá estou... e quero continuar porque parar é morrer e eu sempre transbordei de vida.
Nada me vai tirar essa vida.
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A principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burburinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Primeiro Dia - Sérgio Godinho
(raio do homem tem mesmo cara de sapo... que feio...! :op)
estes teus monólogos com o inner self são sensacionais...
gostava de conseguir reter assim a sabedoria da vida, do filme que estou a ver, do momento... e recordar.
porque há coisas que eu gostava que se pudessem tomar como comprimidos, tal como a sabedoria, a sensatez, a realidade...