27 October 2008

Eu tenho a minha loucura...

Basta...

Eu quero?
O que sabes tu do que eu quero? Nem tu nem ele, nem ninguém. Porque na hora 'certa' ou falhamos ou acertamos. É tão simples. E depois? Depois o nosso tempo, simplesmente, passa...
E isto serve para ti como também já serviu em tempos para mim.
Pfff... Agora, de repente, já sabes tudo...
Cada um sabe de si, não é...? Então eu sei de mim.
Sou doida? Talvez seja. Deixa-me ser... Cada um também tem a sua loucura.
Eu tenho a minha loucura!
E viva José Régio...!


"Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces,

Estendendo-me os bracos, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os bracos,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Porque me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que e fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos labios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
Sei que não vou por aí.

Cântico Negro
José Régio

5 comments:

Gonças said...

Os loucos têm sempre a certeza de que estão bem. Apenas as pessoas sãs estão dispostas a admitir que são loucas (Nora Ephron)
Beijo

Gonças said...

Os loucos têm sempre a certeza de que estão bem. Apenas as pessoas sãs estão dispostas a admitir que são loucas (Nora Ephron)
Beijo

(n)Ana said...

Ah...! Nem mais. Concordo a 100% com a Nora.
Beijos!

Rosa said...

Quem sabe, sabe, e quem sabe de si é que sabe.

Pinheirinha said...

Por momentos parecias-me o Pinto da Costa, o meu presidente, não o irmão, o professor. Ele também adoro José Régio e áposto que também lhe chamam muitas vezes maluco. Quanto a ele toda a gente sabe o que quer: ser o maior (pronto, já o é, mas quer ser mais, nós por cá temos a mania das grandezas). Falhar ou acertar? Lá está: futebol, baliza.

Sê doida!!! Doida não é mau, maluca é. Eu prefiro ser choné ou xoné! É um estado mais passageiro, mais são e mais engraçado. Ser choné ou xoné é quase saudável :D
De uma forma ou de outra sê tu e mai nada!

Beijosssss grandessss