Oh, tempos volvidos desde um último post!
+/- 10 meses de "silêncio" ou com ausência de imagens.
A minha "menina dos pézinhos" cresce. A um ritmo alucinante, quase poderia dizer. Já deixou de ser bebé, tem as suas vontades próprias. Adivinha-se um certo géniozinho ('como a mamã', diria o pai). "Não" é vocábulo de predilecção, geralmente nunca proferido uma só vez. É convicta na negação.
Em Dezembro perdeu o avô João. Para um maldito cancro que outras complicações foi arrastando desde 2010. Ainda nos estamos a habituar à vida com esta nova equação, a falta que nos pesa, tanto e todos os dias. Não creio que alguma vez nos habituemos. Continuamos, é certo, mas seguimos mais mancos e duramente incompletos. Uns dias pesam mais que outros mas parar é que não, não é opção, nem era o que o avô quereria.
O trabalho tem mudado. Gostava de dizer que para melhor.
Marcam três dias da semana caminhadas até um "novo" espaço ao qual ainda não consigo chegar sem a sensação (ou será desejo?) de que a situação seja apenas temporária. Isto de estar hoje "aqui" e amanhã "acolá" afecta-me na minha vida e também na organização do meu trabalho. Mas assumo, e faço o meu melhor.
São caminhadas um pouco deprimentes nesta nova realidade, principalmente no primeiro dia da semana.
Inicia-se a manhã com o ritual de entrega da moeda ao "Sr." que "ajuda" a arrumar o carro (mas é isso ou arrotar 3 parrecos ao dia no parque "oficial").
Ali mais à frente, há o slalom por entre os alunos de uma escola (uma das 'Taveiradas' da cidade) que inicia a avenida, que escolhem o passeio para vir fumar um cigarro (daí a proliferação de beatas no chão), para ensaiar uma apresentação com os colegas ou simplesmente para estar (em bando). Por entre eles passo, umas vezes em modo slalom, outras corredor de fumo...
E pombos. Esvoaçam por ali. Há dias em que um tipo lhes dá migalhas e fica ali a fazer "cerca" às pessoas que vão passando, certificando-se que ninguém passa próximo o suficiente para incomodar os bichos enquanto debicam as côdeas.
Não muito adiante, mais sem abrigo. A estes não dou a moeda. Não me prestam "serviço", apenas dormem, em colchões usados e sujos. Abençoo a minha sorte e, para dentro, desejo-lhes melhor sorte a eles.
Uma rua que podia ser das mais bonitas da cidade transpira cansaço no rescaldo do fim de semana. Garrafas de vidro, das de litro de cerveja (vulga litrosa) repousam no chão ou em canteiros, esquecidas, dejectadas, depois de terem sido, por momentos daquela noite, as melhores amigas de alguém que matou a sede ou a saudade da embriaguez. O "amigo", vinolento, ali a abandonou ou até ali a deixou rebolar somando-a ao rasto sujo da rua usada.
As pedras da calçada enegrecidas. Nem a chuva as deixa mais limpas. Entre estas, as juntas são cascas de amendoim das boticas que ali subsistem.
A paragem de autocarro pejada de gente simples. Ouço discussões, um jovem grita em desrespeito para com a mãe que lhe dá "sermão" sobre o que ele anda a fumar. Uma menina que não deve ter mais de 4 anos (presumo que irmã do "ganda maluc'") assiste calada. Belo exemplo.
Morro várias vezes na passadeira de várias ruas que dão luz verde aos peões mas amarelo para os carros...
O dia passa, num mergulho em tarefas concluídas com progressivo sucesso. Ocupo-me, pesquiso, cresço, trabalho. Tudo ajuda a não pensar onde estou ou como ali fui parar. And a girl's gotta do what a girl's gotta do.
A ida para os bracinhos da "menina dos pés" é o momento alto de cada dia.
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