02 December 2011

Dezembro

O último poema do calendário, dedicada a Dezembro - Oração à Luz de Guerra Junqueiro... (é gigante, ficam excertos...)

Claro mistério
Do azul etéreo!
sonho sidéreo!

Da terra dorida
Alento e guarida
Fermento da vida!

(...)

Luz-esp'rança, luz rútila da aurora,
Vida vibrando na amplidão sonora,
Vida cantando pela vida fora.
Luz!


Luz que nos dás o pão, ó luz amada!
Luz que nos dá o sangue, ó luz doirada!
Luz que nos dás o olhar, luz encantada!
Bemdita sejas, luz, bemdita sejas!


Sejas bemdita em nós, ó fonte de harmonia!
Sejas bemdita em nós, ó urna de alegria!
Bemdito seja o filho teu, o alvor do dia!
Perpetuamente, ó luz, ó mãe, bemdita sejas!

A inabalável rocha taciturna,
Quando a electriza teu deslumbramento.
Acorda e sonha na mudez soturna...

Por ti se volve areia ; e num momento
A areia é lodo, é seiva, é fruto lindo,
É carne humana, é sangue, é pensamento...

(...)

Por teu fulgor genésico e materno
Surdem núpcias das campas viridentes
B, um novo abril palpita em cada inverno...
Por ti suspiram, sem te ver, dormentes,

As almas vegetais, indefenidas
No mistério noturno das sementes...
Germinando por ti, por ti vestidas.
Sonham aroma, sonham forma e côr,

Em teu alvor magnético embebidas...
E esplêndidas de graça, enlevo e amor,
Erguem-te, ó luz, um ai de luz radiante.
Aberto em beijo, idealizado em flor!...

(...)

Do lodo à água, do metal à fera.
Da fera ao anjo, do covil à cruz,
Move-se tudo, existe e reverbera.
Sonhando, amando, palpitando em luz!

(...)

Luz dardejante!
Graça da côr ! alvor, fulgor, esplendidez!
Tu és escuridão, és uma cega errante...
Cega noturna e deslumbrante,
Porque alumias e não vês!

(...)

Farei cega a luz que me alumia
A luz espiritual do grande dia,
A luz de Deuz, a luz do Amor, a luz do Bem,
A luz da glória eterna, a luz da luz, Amén!

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