01 October 2006

E de novo

Impaciente, resolveu sair de casa.
Queria não chorar mas as lágrimas, teimosas, escorriam-lhe pelo rosto.
Decidiu ir àquele lugar... mesmo com os olhos enevoados do choro, conduziu até lá.
Ali estava ele, avistara-o do carro. Lembrava-lhe um tripé.
"Engraçado", pensou - "como os tripés foram criados para apoiar e sustentar as coisas... não tens cumprido a tua função, tripé estúpido."
Deciciu sair do carro e caminhar, mesmo no escuro, até lá. Pareceu-lhe bonito, poético até, ir pôr um ponto final no local onde tudo começou...
Desde então o local fora arranjado e pintado. Mesmo assim não lhe pareceu ver nele nem metade do romantismo que parecia ter quando estava, há já uns pares de anos, com a tinta a descascar e com a maior parte do cimento à vista.
Nem sequer conseguiu aninhar-se como gostava de ter feito. O local estava infestado de minhocas. Daquelas pretas que ficam todas enroladinhas às quais ela chamava Maria-qualquer-coisa quando era pequenina.
Não ficou muito tempo, apenas o suficiente para contemplar a vista repleta de luzes e luzinhas daquele vale que um dia testemunhara algo bonito mas que estava prestes a chegar ao fim.
Desceu mais rápido do que subiu.
Pelo caminho deu um pontapé numa pedra solta... deve ter doído pois ia de chinelos, mas nenhuma dor se igualava, no momento, com a dor que sentia por dentro.
Só minutos depois, quando pisou o travão do carro, sentiu o dedo latejante e a pegar-se ao chinelo; levou-lhe a mão e sentiu sangue. Mais uma cicatriz para recordação...

2 comments:

Anonymous said...

Há um ditado sarcástico que diz: "se os conselhos valessem alguma coisa não se davam, vendiam-se." E há alguma verdade neste ditado capitalista. O que o dito ignora é que os conselhos vendem-se mesmo, e não pouco. Há um mercado rentável para os conselhos. Basta olhar para os escaparates de uma livraraia (ou mesmo de uma gasolineira) que lá se encontram diversos títulos de auto-ajuda. O irónico é que, quanto mais rentável é esse mercado, menos eficaz é na ajuda às pessoas: compra-se mais porque nem um nem dois livros foram eficazes no que se propunham (não quer dizer que seja sempre assim...). Daqui se pode avaliar parte da relevância dos conselhos.

O conselho depende mais do momento, do modo como é dito e de quem ouve (isto é Lá palisse) e normalmente só ouvimos o que já sabemos. Por isso deixa-me continuar a dizer o que sabes: não exponhas muito as lágrimas (podes ficar sem intimidade) e, quanto à compaixão por nós mesmos deve-se beber um ou dois "copos de vinho", o resto da história também tu sabes.

P.S. - Não tenho nada contra o mercado dos conselhos. O do amor é muito mais rentável (topes nacionais e internacionais de música e livros e etc...o amor vende t-shirts com coraçõezinhos...). Queres outra que já sabes: os conselhos que nos saem mais caros são sempre os gratuitos (se nunca ninguém disse isto muitos o pensaram inúmeras vezes). E agora que te escrevo reparo que o que mais vende neste mundo é: a violência (guerra, armas) a ilusão (a droga, da bebida à injectada) e o amor (muita arte e não só). Provavelmente esta é uma forma simplista de ver as coisas, mas há alguma verdade nela.

P.S.: Espero que tenhas passado um minuto agradável a ler isto. Não tenho mais pretensões do que essas. Mais la palisse? a última palavra sobre ti é tua.

Nano

(n)Ana said...

Querido Nano,

Muito obrigada pelo teu comment.
Gostei mesmo muito de o ler.